“Recordação também é saudade...”
A sala do cinema São Jorge recebeu, de pé, na noite de ontem, quarta-feira, a grande dama 
da música cabo-verdiana, para ser brindada por uma viagem pelas primeiras gravações, nos idos anos sessenta.
O espectáculo serviu para a apresentação do CD Rádio Mindelo, e recordar os tempos em que os estúdios da Radio Barlavento faziam história e a música de Cabo Verde começava a ser registada para a posteridade.
Foi uma Cesária serena e etérea, de pés descalços, na fria noite de Lisboa, que emocionou o público que preenchia por completo o São Jorge.
Acompanhada à guitarra por Armando Tito e Cao, Paulino no cavaquinho, Miroca na percussão, Zezinho ao violino e Nando ao piano, Cesária passeou por mornas como Belga, Mar Azul, Miss Perfumado, Mar de Canal, para sempre modeladas pela sua voz quente e macia.
Depois vieram as coladeiras, antigas como Saikô Daiô, Sangue di Berona, numa retrospectiva de um Mindelo de outrora. Sobre o palco, num ecran gigante, a viagem era acompanhada por imagens de um Mindelo de outrora.
No final, era uma imagem clara de satisfação e prazer que marcava os rostos do público, numa ampla cumplicidade de quem recordava momentos da juventude e infância, marcados por um refrão ou melodia colada no ouvido.
“Recordação também é saudade....”, ouvia-se pelas escadas do velho cinema. "E a nossa Cize continua única."
Estava-se em finais dos anos cinquenta. Estúdios profissionais de gravação, em Cabo Verde, nem em sonhos. Mas as músicas - mornas e um estilo novo chamado coladeira - abundavam pelas ruas e botequins da cidade do Porto Grande. A voz doce e inconfundível de Cesária Évora, na altura com 17 anos, já dava nas vistas, e pela mão de Ti Goy, Caraca e Lela Preciosa, era arrastada para tocatinas e noites cabo-verdianas.
