Estava-se em finais dos anos cinquenta. Estúdios profissionais de gravação, em Cabo Verde, nem em sonhos. Mas as músicas - mornas e um estilo novo chamado coladeira - abundavam pelas ruas e botequins da cidade do Porto Grande. A voz doce e inconfundível de Cesária Évora, na altura com 17 anos, já dava nas vistas, e pela mão de Ti Goy, Caraca e Lela Preciosa, era arrastada para tocatinas e noites cabo-verdianas.Antes das gravações, a Rádio Clube de Mindelo já havia iniciado emissões especiais, com músicos tocando e cantando, directamente, para os microfones. A partir dos anos 60, chegam dois gravadores de bobines Ampex e a rádio passa a efectuar gravações com artistas e grupos, pela mão do então técnico Gustavo Albuquerque. Entre as cantoras estava uma jovem promissora: Cesária Évora.
Outros artistas, como Caraca, Ti Goy, Manuel d’ Novas, Malaquias, Djack Monteiro, Lulu Marques, Maria da Luz Sousa, a pianista Tututa, Djosa marques, Franck Cavaquinho, Lena ferro, Arminda Sousa, também fizeram os seus primeiros registos, na mesma altura, na Rádio Barlavento, em São Vicente.A Rádio Barlavento conservou todas as gravações. E em 1992, José “Djô” da Silva, director da editora Lusáfrica e produtor de Cesária Évora, em conversa com Sequeira, melómano e arquivista da rádio, ficou sabendo da existência das preciosas e agora históricas gravações. Após um primeiro contacto com Fonseca Soares, então director da RCV, e através de um protocolo, a Rádio de Cabo Verde disponibilizou as gravações para serem limpas, filtradas e digitalizadas.
Inicialmente previsto para 1995, chega ao público, nestes finais de 2008, a aguardada reedição dos primeiros registos da voz doce e cristalina de Cize, num reencontro com a História. Reencontro em forma de homenagem, também, a todos quantos contribuíram - músicos, artistas e técnicos – para um presente/futuro maior da música cabo-verdiana.
Joaquim Arena, para o Sapo Notícias